sexta-feira, novembro 18, 2011

O Orçamento Participativo mudou...

Redigi isso em 4 de outubro e agora posto aqui minhas observações sobre o processo de OP em BH:
 Espalhei um e-mail pra meio Belorizonte pra todo mundo ver como são as coisas: o OP começou a perder sua maravilhosa característica popular, universal e democrática quando o Fernando Pimentel mudou os procedimentos que envolvia centenas de pessoas, em auditórios de escolas públicas, para discutir propostas. A implantação do OP Digital tornou o processo mais elitista, mesmo que ainda contemple algumas obras para populações mais carentes.

As caravanas em ônibus foram uma das maiores experiências de minha vida, porque, embora eu fosse uma líder comunitária atuante na época, entrei em um dos ônibus sozinha, sem ninguém de meu bairro, de minha tribo. Só tinha gente do Alto Vera Cruz, Taquaril e regiões próximas, que é a parte mais pobre da Região Leste de BH, que é uma das mais pobres da cidade, num local de acentuada topografia. A maioria das pessoas que acompanhavam a caravana eram moradores de vilas e favelas. Senti-me totalmente hostilizada, com pessoas olhando esquisito pra mim e cheguei a ouvir impropérios de uma moça que me chamou de "burguesinha de Santa Tereza".

Depois da 1ª parada, eu poderia ter trocado de ônibus, mas preferi enfrentar a situação e ver no que dava. Apenas na hora do almoço, num grupo escolar lá desses lados, é que consegui relaxar, ao conversar com alguns conhecidos do meu vizinho bairro Floresta e de funcionários da prefeitura, comendo no bandeijão do refeitório e descansando na quadra da escola.

Vi tanto esgoto a céu aberto e tive a incrível experiência de ver gente deixando de votar em melhorias para o seu próprio bairro ou vila para votar em obras para locais mais necessitados, às vezes de extrema pobreza.

A nossa proposta (dos bairros Santa Tereza e Floresta, proposta por este último bairro, e não por nós) não tinha concorrência, pois as lideranças dos 2 bairros combinamos de antemão de apresentarmos um único projeto para termos chance de sairmos contemplados no dia da votação.

Fomos a última parada da caravana, e, só então, quando uma pessoa da AMIFLOR (Associação dos Amigos da Floresta, um antigo e simpático bairro de classe média de BH) começou a fazer a defesa de nosso Centro Cultural da Leste e, ao mesmo tempo, me apresentou para aquelas pessoas, é que eu senti a animosidade se esvair. Ao fim da tarde, até recebi um cumprimento de despedida daquela que havia me xingado de manhã...

Vocês precisavam ver o orgulho daquelas pessoas de poder vislumbrar que poderiam ter um Centro Cultural num antigo cinema, numa linda praça no bairro de Santa Tereza. Era o povo descendo do morro nos ônibus do Brizola para as praias da zona sul do RJ!...

Bom, a prefeitura adquiriu o imóvel, mas nunca viabilizou nem a reforma e nem o aspecto institucional e de apoio logístico para o Centro Cultural virar uma realidade. Muitos anos se passaram e a Região Leste ficou mesmo só com o Centro Cultural do Vera Cruz, que é uma referência em atividades culturais da população local em BH. Veja em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Alto_Vera_Cruz_%28Belo_Horizonte%29

Agora, imaginem como eu fiquei danada quando li da revitalização do Cine com patrocínio da Vale, sem a menor menção a que aquele espaço foi conquistado pelo povo da Região Leste!

E minha danação culminou em raiva quando li a matéria sobre os antigos cinemas no domingo!
Tem dó!

Tenho que botar a boca no mundo pra todos saberem de quem é aquilo ali, e quem foram os responsáveis por esse ser um dos poucos cinemas que restaram intactos em Belo Horizonte!

Aproveitem para ver uns vídeos que postei do Renegado, em especial o Conexão Alto Vera Cruz/Havana.

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