sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Os portugueses é que estão certos: a palavra correta é telemóvel

Tive q trocar um cel velho, daqueles q não eram GSM, e me deram um q não gostei, pq só pegava em Minas. Pesquisei e descobri pq (a Vivo opera em Minas com uma frequência diferente do resto do país). Reclamei muuuuiiiiito e consegui um monte de pontos pra trocar por outro celular, agora "quadriband". Fui lá e troquei por um com GPS.
No mês seguinte minha conta foi lá pra estratosfera.
Deletei tudo quanto era endereço de rede do tal cel.
Agora, não pega mais GPS...
E o cel não pega e nem nunca pegou dentro da minha casa nem no sítio.

Ai, saudades do meu velho telemóvel...


terça-feira, fevereiro 22, 2011

Trem do Sertão

Meus bisavós foram com 3 filhos de Áqua Quente (sertão da Bahia, ao sul da Chapada Diamantina) pra MOC, e de lá vieram de trem pro Quadrilátero Ferrífero, em Santa Bárbara, que era o final da linha...

 http://www.youtube.com/watch?v=9S9IcmcMGF4

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Deolinda - Que Parva Que Sou (Legendado)

Caí do mundo - E a conversa rendeu...

Em 10 de fevereiro de 2011 22:16, A escreveu:


Prima querida,
Ainda vou ler um livro escrito por você heheheheheh
Adoro !!!!! Vibro com o que vc escreve !!!!
Beijos


Querida A,

A sua torcida me leva às alturas!

Não sei porque quando escrevo algo q penso, me dá vontade de mandar pra vc...
Deve ser a mesma vontade que tia Z tem de mostrar pra gente ler o q ela escreve.
Acho q escrever deve andar juntinho com ler.

Mas R não gostou. Vou encaminhar pra vc nossa troca de e-mails.

Vc está viajando, ou viajou?
Li no feicebuque a Vera te perguntando se já tinha chegado.

Com saudades,
um abraço bem gostoso
da Nina


---------- Mensagem encaminhada ----------
De: R

Ei Nina,
recebí esse texto pela nossa prima. É uma outra postura sobre o assunto q vc escreveu e embora a gente sempre guarde algumas coisas como recordação acho q se guardarmos quase tudo ficaremos quase sem movimento criativo, pesados demais, travados demais, sem energia demais. E o pior, QUEM VAI LIMPAR?????? bj

"DESTRALHE-SE"

-"-Bom dia, como tá a alegria"? Diz dona Francisca, minha faxineira rezadeira, que acaba de chegar.
-Antes de dar uma benzida na casa, deixa eu te dar um abraço que preste!" e ela me apertou.

Na matemática de dona Francisca, "quatro abraços por dia dão para sobreviver; oito ajudam a nos manter vivos; 12 fazem a vida prosperar".
Falando nisso, "vida nenhuma prospera se estiver pesada e intoxicada".

Já ouviu falar em toxinas da casa? Pois são:
- objetos que você não usa,
- roupas que você não gosta ou não usa a um ano,
- coisas feias,
- coisas quebradas, lascadas ou rachadas
- velhas cartas, bilhetes,
- plantas mortas ou doentes,
- recibos/jornais/revistas, antigos,
- remédios vencidos,
- meias velhas, furadas,
- sapatos estragados...

Ufa, que peso! "O que está fora está dentro e isso afeta a saúde", aprendi com dona Francisca.

- "Saúde é o que interessa. 
O resto não tem pressa"!, ela diz, enquanto me ajuda a “destralhar”, ou liberar as tralhas da casa...

O 'destralhamento' é a  forma  mais rápida de transformar a vida e ajuda as outras eventuais terapias.
Com o destralhamento:
- A saúde melhora;
- A criatividade cresce;
- Os relacionamentos se aprimoram...

É  comum se sentir:
- cansado,
- deprimido,
- desanimado, em um ambiente cheio de entulho, pois "existem fios invisíveis que nos ligam à tudo aquilo que possuímos".

Outros possíveis efeitos do "acúmulo e da bagunça":
- sentir-se desorganizado;
- fracassado;
- limitado;
- aumento de peso;
- apegado ao passado...

No porão e no sótão, as tralhas viram sobrecarga;
Na entrada, restringem o fluxo da vida;
Empilhadas no chão, nos puxam para baixo;
Acima de nós, são dores de cabeça;
Sob a cama, poluem o sono.

-"Oito horas,  para trabalhar;
 Oito horas,  para descansar;  Oito horas,  para se cuidar."

Perguntinhas úteis na hora de destralhar-se:
- Por que estou guardando isso?
- Será que tem a ver comigo hoje ?
- O que vou sentir ao liberar isto?

...e vá fazendo pilhas separadas...
- Para doar!
- Para jogar fora!

Para destralhar mais:
- livre-se de barulhos,
- das luzes fortes,
- das cores berrantes,
- dos odores químicos,
- dos revestimentos sintéticos...
e também...
- libere mágoas,
- pare de fumar,
- diminua o uso da carne,
- termine projetos inacabados.

"Se deixas sair o que está em ti, o que deixas sair te salvará... 
Se não deixas sair o que está em ti, o que não deixas sair te destruirá",
"Acumular nos dá a sensação de permanência, apesar de a vida ser impermanente", diz a sabedoria oriental. 
O Ocidente resiste a essa idéia e, assim, perde contato com o sagrado instante presente.

Dona Francisca me conta que: "as frutas nascem azedas e no pé, vão ficando docinhas com o tempo"... a gente deveria de ser assim, ela diz.
-"Destralhar ajuda a adocicar."
Se os sábios concordam, quem sou eu para discordar...
      Texto: CS


Acho q sei quem é esse autor.
 É um arquiteto "alternativo". O sabetudo das eco-espirito-astral-arquiteturas.

Mas identifico-me mais com o outro texto.

E meu movimento criativo tem a ver com os objetos e os lugares de minha memória.
Tem a ver com os meus saberes, e definitivamente eles não me fazem mais pesada nem travada.

Somos diferentes. Pensamos diferente. Agimos diferente. "Guardamos" diferente.

Um bj,
Nina


Aí, A,

Leia o e-mail, q por sinal é muito bonito, mas q nesse contexto ficou parecendo uma lição de moral pra mim. 

Acho q ela ficou mais presa aos objetos q tenho na minha casa, do que no tema do texto que me inspirou: a atitude mental de "aproveitar tudo", não desperdiçar, na qual fomos criados, nós de nossa geralção, em contradição com o mundo descartável em que vivemos hoje.

Pra mim não resta dúvida q nossa geração é uma ponte entre o mundo conhecido e o mundo instantâneo, entre o mundo sólido e duradouro e o mundo instável.
Outro dia mesmo fiz um trocadilho com uma amiga no feicibuque com o fato de que não "ficávamos ficando" quando jovens.

Nossa geração procura assimilar esses 2 mundos, não é simplesmente entender, nós assimilamos mesmo, alteramos nosso modo de interagir com o mundo. Fomos criados ainda com resquícios do ambiente do seriado "Papai Sabe-Tudo". Pra nós esse ambiente não foi um passado longínquo, ele entranhou em nossa formação.
 E a partir de aproximadamente 1980, tudo começou a mudar muito rapidamente. E nós fomos absorvendo a mudança em nós mesmos. Vivemos os 2 modos de pensar. O cérebro dos de nossa idade funciona analógica e digitalmente.

Já nossos filhos são totalmente inseridos na era do tecno-virtu-digi-rápido. A figura q me vem à mente pra descrever nosso tempo atual não é nem movimento, é mudança. Vivemos numa contínua mudança.

Minha mãe é muito moderna e despachada, mas ela não foi totalmente solicitada a funcionar digitalmente, na contínua mudança. Ela usufrui desse mundo rápido, mas o modo de pensar dela é estável. Ela não é requisitada a bruscas reviravoltas mentais.

Não sei se estou me fazendo entender.
 Vamos imaginar o que é conhecer uma vitrola ou um aparelho de som para os que nasceram antes da década de 50.
 Vamos imaginar o que é conhecer um aparelho de som e um iphone e ipad para os que nasceram da metade do século 20 até meados da década de 70.
 E vamos imaginar o q é conhecer todos os aparelhos smartphones e ipads q vão surgindo a cada ano para os que estão na faixa dos 30 anos pra baixo.

Nesse exercício de imaginação notamos a sutileza (nada sutil) da forma pensante.
Nessa diferença da forma pensante é que reside toda a questão.
 A estrutura mental, como se pensa, como se vê, como se interage, como se age, enfim, tudo é diferente entre o antes e o depois do mundo tecno-descartável.
 E nós ficamos no meio. Nós pensamos, vemos, interagimos, agimos, das 2 formas.
 Essa é a questão.

É sobre isso q a crônica do cara, e a minha ponderação posterior, trata.

O guardar muito ou pouco objeto de recordação e coisas velhas é um detalhe.
 Eu guardo muito. Minha amiga pode guardar muito pouco, mas nós 2 sentimos essa mesma sensação de estarmos sempre sendo solicitadas a pensar das 2 formas, a estável e a instantânea, a duradoura e a descartável, a analógica e a eletrônica-nano-digital.

Nossos pais eram do tempo das ciências humanas e das exatas.

O tempo atual é o no qual a física e a química se misturaram, o mundo é relativo, instantâneo e descartável.

E nós, nós funcionamos com a dupla voltagem.

Bjs,
N







quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Correspondência entre amigas - nós é que somos de uma geração de alfabeto inteiro, mais alfa, beta, gama, ômega.

Elisa e Eneida,

Adorei essa crônica!

Eu tb caí do mundo...
Todo final de ano sofro com os conselhos q chegam por e-mail, pessoalmente, pela net, pela tv, de q precisamos nos desfazer do velho pra deixar entrar o novo, q precisamos arrumar os armários, jogar fora papéis velhos, desfazer-se de todas as roupas q não usamos durante o ano...
Como, se ainda uso sapatos e roupas de mais de 30 ou 40 anos q herdei de minha madrinha, como, se conserto roupas que ganhei de primas na máquina de costura Singer que foi de vovó Cherubina que foi trocada pelo vovô Chico pela vaca que ela levou de dote quando casou, como, se minhas melhores bijouterias são os colares e broches que vovó Cherubina e sua amiga vovó Margarida me deram, pois jóias, as que herdei de vó e mãe ladrão levou, como, se cada caderno do primário de Augusto que eu vejo ao arrumar prateleiras eu torno a guardar porque acho importante, como, se cada enfeite de minha sala é uma lembrança de uma pessoa ou de um lugar importante, como, se ao olhar meus armários de cozinha encontro carretilha de pastel, ferro de rosa gaúcha, forminhas de empada, que nunca vou usar mas tenho orgulho de dizer que sei fazer?
Não dá pra jogar fora minhas lembranças, meus saberes, minha vida, o que eu sou...
O cúmulo do cúmulo que eu fiz muito foi serzir meias finas de nylon, com um fio tão invisível que ficava parecendo um arranhãozinho na perna... Essa fui eu que inventei, e tinha orgulho de mostrar!
Outra, foi madrinha: me ensinou a cortar a perna da meia calça que furou pra emendar com outra da mesma cor.
Essas coisas eu parei de fazer a muito tempo, assim que decidi fazer um tapete de crochê de meias de nylon. E desde então eu tenho uma gaveta só para meias de nylon furadas...

A propósito, ainda tenho os presentes que vocês me deram em 1978: o conjunto de chá de louça branca q Eneida me deu é para servir minhas visitas, e o carrinho de legumes que ganhei da Elisa, mamãe me tomou quando vendi meu apartamento em Santa Tereza e está na cozinha da casa dela até hoje.

Caí do mundo, mas ainda sigo correndo e pego carona nele andando, com minhas coisas e meus trens todos, e fico com aquela sensação de que não posso perder nada, tenho que entender de tudo. Será por quanto tempo que minha cabeça vai caber tanta coisa? Depois falam de geração y, nós é que somos de uma geração de alfabeto inteiro, mais alfa, beta, gama, ômega.

O que há em mim é sobretudo cansaço, parodiando Álvaro de Campos:
http://ninahbh.blogspot.com/2010_01_01_archive.html

Bjs pras 2,
Nina



Em 10 de fevereiro de 2011 10:20, Elisa escreveu:
 

 caramba...faz tão pouco tempo e nós já fazemos parte desta memória tão longinqua....   
 
 bjs,  elisa


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O que acontece comigo, que não consigo andar pelo mundo pegando coisas e trocando-as pelo modelo seguinte, só porque alguém adicionou uma nova função ou a diminuiu um pouco?

Não faz muito, com minha mulher, lavávamos as fraldas dos filhos,
pendurávamos no varal junto com outras roupinhas, passávamos, dobrávamos e as preparávamos para que voltassem a serem sujas.

E eles, nossos nenês, apenas cresceram,  tiveram seus próprios filhos e se encarregaram de atirar tudo fora, incluindo as fraldas. Entregaram-se, inescrupulosamente, às descartáveis!

Sim, já sei. À nossa geração sempre foi difícil jogar fora. Nem os
defeituosos conseguíamos descartar! E, assim, andamos pelas ruas, guardando o muco no lenço de tecido, de bolso.

Nããão! Eu não digo que isto era melhor. O que digo é que, em algum momento, eu me distraí, caí do mundo e, agora, não sei por onde se volta.

O mais provável é que o de agora esteja bem, isto não discuto. O que
acontece é que não consigo trocar os instrumentos musicais uma vez por ano, o celular a cada três meses ou o monitor do computador por todas as novidades.

Guardo os copos descartáveis! Lavo as luvas de látex que eram para usar uma só vez.

Os talheres de plástico convivem com os de aço inoxidável na gaveta dos talheres! É que venho de um tempo em que as coisas eram compradas para toda a vida!

É mais! Compravam-se para a vida dos que vinham depois! A gente herdava relógios de parede, jogos de copas, vasilhas e até bacias de louça.

E acontece que em nosso, nem tão longo casamento, tivemos mais cozinhas do que as que haviam em todo o bairro em minha infância, e trocamos de refrigerador três vezes.

Nos estão incomodando! Eu descobri! Fazem de propósito! Tudo se lasca, se gasta, se oxida, se quebra ou se consome em pouco tempo para que possamos trocar.

Nada se arruma, não se conserta. O obsoleto é de fábrica. Aonde estão os sapateiros fazendo meia-solas dos tênis Nike? Alguém viu
algum colchoeiro encordoando colchões, casa por casa? Quem arruma as facas elétricas: o afiador ou o eletricista? Haverá teflon para os funileiros ou assentos de aviões para os seleiros?

Tudo se joga fora, tudo se descarta e, entretanto, produzimos mais e mais e mais lixo. Outro dia, li que se produziu mais lixo nos últimos 40 anos que em toda a história da humanidade.

Quem tem menos de 30 anos não vai acreditar: quando eu era pequeno, pela minha casa não passava o caminhão que recolhe o lixo! Eu juro! E tenho menos de ... anos! Todos os descartáveis eram orgânicos e iam parar no galinheiro, aos patos ou aos coelhos (e não estou falando do século XVII). Não existia o plástico, nem o nylon. A borracha só víamos nas rodas dos carros e, as que não estavam rodando, as queimávamos na Festa de São João. Os poucos descartáveis que não eram comidos pelos animais, serviam de adubo ou se queimava.

Desse tempo venho eu. E não que tenha sido melhor... É que não é fácil para uma pobre pessoa, que educaram com "guarde e guarde que alguma vez pode servir para alguma coisa", mudar para o "compre e jogue fora que já tem um novo modelo".

Troca-se de carro a cada 3 anos, no máximo, por que, caso contrário, és um pobretão. Ainda que o carro que tenhas esteja em bom estado... E precisamos viver endividados, eternamente, para pagar o novo!!! Mas... por amor de Deus! Minha cabeça não resiste tanto. Agora, meus parentes e os filhos de meus amigos não só trocam de celular uma vez por semana, como, além disto, trocam o número, o endereço eletrônico e, até, o endereço real.

E a mim que me prepararam para viver com o mesmo número, a mesma mulher, a mesma e o mesmo nome? Educaram-me para guardar tudo. Tuuuudo! O que servia e o que não servia. Porque, algum dia, as coisas poderiam voltar a servir.

Acreditávamos em tudo. Sim, já sei, tivemos um grande problema: nunca nos explicaram que coisas poderiam servir e que coisas não. E no afã de guardar (por que éramos de acreditar), guardávamos até o umbigo de nosso primeiro filho, o dente do segundo, os cadernos do jardim de infância e não sei como não guardamos o primeiro cocô.

Como querem que entenda a essa gente que se descarta de seu celular  poucos meses depois de o comprar? Será que quando as coisas são conseguidas tão facilmente, não se valorizam e se tornam descartáveis com a mesma facilidade com que foram conseguidas?

Em casa tínhamos um móvel com quatro gavetas. A primeira gaveta era para as toalhas de mesa e os panos de prato, a segunda para os talheres. A terceira e a quarta para tudo o que não fosse toalha ou talheres.

E guardávamos... Como guardávamos!! Tuuuudo!!! Guardávamos as tampinhas dos refrigerantes!!! Como, para quê? Fazíamos capachos, colocávamos diante da porta para tirar o barro dos sapatos. Dobradas e enganchadas numa corda, se tornavam cortinas para os bares. Ao fim das aulas, lhes tirávamos a cortiça, as martelávamos e as pregávamos em uma tabuinha para fazer instrumentos para a festa de fim de ano da escola.

Tuuudo guardávamos! Enquanto o mundo espremia o cérebro para inventar isqueiros descartáveis ao término de seu tempo, inventávamos a recarga para isqueiros descartáveis. E as Gillette até partidas ao meio se transformavam em apontadores por todo o tempo escolar. E nossas gavetas guardavam as chavezinhas das latas de sardinhas ou de fiambre, na possibilidade de que alguma lata viesse sem sua chave.

E as pilhas! As pilhas dos primeiros radinhos transistores passavam do congelador ao telhado da casa. Por que não sabíamos bem se se devia dar calor ou frio para que durassem um pouco mais. Não nos resignávamos que terminasse sua vida útil, não podíamos acreditar que algo vivesse menos que um jasmim.

As coisas não eram descartáveis. Eram guardáveis.

Os jornais!!! Serviam para tudo: como de forro para as botas de
borracha, para por no piso nos dias de chuva e por sobre todas as coisas
para enrolar. Às vezes sabíamos alguma notícia lendo o jornal tirado de um embrulho de bananas. E guardávamos o papel de alumínio dos chocolates e dos cigarros para fazer guias de enfeites de natal, e as páginas dos almanaques para fazer quadros, e os conta-gotas dos remédios para algum medicamento que não o trouxesse, e os fósforos usados por que podíamos acender uma boca de fogão (Cosmopolita era a marca de um fogão que funcionava com gás) desde outra que estivesse acesa, e as caixas de sapatos se transformavam nos primeiros álbuns de fotos e os baralhos se reutilizavam, mesmo que faltasse alguma carta, com a inscrição a mão em um val ete de espada que dizia "esta é um 4 de paus".

As gavetas guardavam pedaços esquerdos de prendedores de roupa e o ganchinho de metal. Ao tempo esperavam somente pedaços direitos que esperavam a sua outra metade, para voltar outra vez a ser um prendedor completo.

Eu sei o que nos acontecia: custava-nos muito declarar a morte de nossos objetos. Assim como hoje as novas gerações decidem matá-los tão-logo aparentem deixar de ser úteis. Aqueles tempos eram de não se declarar nada morto: nem a Walt Disney!!!

E quando nos venderam sorvetes em copinhos, cuja tampa se convertia em base, nos disseram: comam o sorvete e depois joguem o copinho fora! E nós dizíamos que sim, mas, imagina que a lançávamos fora!!! As colocávamos a viver na estante dos copos e das taças. As latas de ervilhas e de pêssegos se transformavam em vasos e até telefones. As primeiras garrafas de plástico se transformaram em enfeites de duvidosa beleza. As caixas de ovos se converteram em depósitos de aquarelas, as tampas de garrafões em cinzeiros, as primeiras latas de cerveja em porta-lápis e as rolhas de cortiça esperavam encontrar-se com uma garrafa.

E me mordo para não fazer um paralelo entre os valores que se descartam e os que preservávamos. Ah!!! Não vou fazer!!! Morro por dizer que hoje não só os eletrodomésticos são descartáveis; também o casamento e até a amizade são descartáveis. Mas não cometerei a imprudência de comparar objetos com pessoas.

Mordo-me para não falar da identidade que se vai perdendo, da memória coletiva que se vai descartando, do passado efêmero. Não vou fazer! Não vou misturar os temas, não vou dizer que ao eterno tornaram caduco e ao caduco fizeram eterno. Não vou dizer que aos velhos se declara a morte quando apenas começam a falhar em suas funções, que aos cônjuges se trocam por modelos mais novos, que as pessoas a que lhes falta alguma função se discrimina o que se valoriza aos mais bonitos, com brilhos, com gel no cabelo e glamour.

Esta só é uma crônica que fala de fraldas e de celulares. Do contrário, se
misturariam as coisas, teria que pensar seriamente em entregar à bruxa, como parte do pagamento de uma senhora com menos quilômetros e alguma função nova. Mas, como sou lento para transitar neste mundo da reposição e corro o risco de que a bruxa me ganhe a mão e seja eu o entregue...

Autoria atribuída a Eduardo Galeano, jornalista uruguaio, escritor de "As veias abertas da América Latina"



quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Correspondência com a AMORSANTO - minha resposta ao e-mail

E eu continuo fazendo mágica pra sair da garagem, já que a BHTRANS acha que é perfeitamente possível sair da garagem de nossos prédios antigos, de ré, quando a rua está lotada de carros estacionados dos 2 lados.
Até o dia em q eu resolver meter o para-choque em qualquer carro q estiver estacionado do outro lado da rua...
Aí, eu digo: "Chama a perícia! E depois entra na justiça!"

Tenho muitos casos absurdos pra contar, mas vou relatar só um:
No dia 24 de dezembro, ao sair de minha casa com meu filho e minha nora para cearmos na casa de minha mãe, não consegui manobrar o carro dentro da garagem do meu prédio, pois ela estava lotada, e tive q sair de ré (o prédio é antigo, só tem 1 vaga por apto, e o portão é estreito). Na rua não consegui manobrar o carro subindo de ré pra descer de frente na rua Nunes Vieira. A distância era tâo pequena q simplesmente não dava pra virar o carro. Não tinha nem 20 cm. A rua é muito estreita e o passeio tem só 1 metro de largura. Do lado oposto de meu prédio, como sempre, havia uma fila de carros. E do lado de cá, os automóveis estavam estacionados rente ao portão da garagem.
Sabem o q fiz?
Saí de ré e de ré consegui embicar o carro pra cima. Nisso já foram parando vários carros na rua, pois o movimento aqui é danado. Com a frente pra cima, fui descendo a rua Nunes Vieira de ré uns 50 metros, até poder virar o carro utilizando a abertura para a garagem de um prédio mais abaixo (daqueles prédios mais novos q têm a entrada mais larga e recuada, para compensar a largura estreita do passeio). Já havia um monte de gente me esperando - parece até q todo mundo dessa cidade resolveu sair na mesma hora pra cear na casa de mãe ou de sogra...
Aí um gaiato lá atrás resolveu buzinar!
 Foi o que faltava pra eu ficar brava! Abri o vidro do carro e xinguei o apressado, mandando-o passar por cima!
Vizinhos q estavam no passeio viram e ouviram, pois era de chamar a atenção alguém na contra-mão descendo de ré, com uma fila atrás...
 E me deram razão!

Abraços comunitários,
Nina Herrmann

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Igreja de Santo Antônio, no Capanema

Meu comentário à publicação de Raquel Faria, no jornal O Tempo de 01/02/2011

É lamentável a falta de conhecimento do que seja a autogestão e a teoria do capital. Quando jornalistas escrevem em sua coluna inverdades, para muita gente isso vira verdade...
O fato do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, ser um conservador não significa que tudo o que ele propõe, que está sendo chamado de "big society", é idéia e prerrogativa do capitalismo.

Muito pelo contrário. Ele está utilizando de ideias socialistas na sus proposição de um governo de direita.

A autogestão dos cidadãos nos serviços públicos, nos meios de produção, na administração, etc. é o objetivo do socialismo, acabando com o próprio Estado, com as classes sociais, propriedade privada, enfim.

O ideal comunista é uma sociedade socialista com um estado mínimo, com o poder nas mãos da comunidade, com instâncias de decisão locais e globais, sem a força do estado burocrático forte.

O fato de todas as nações comunistas do mundo ainda não terem conseguido atingir esse patamar infelizmente é real.
Como me ensinaram numa comunidade socialista de uma rede social:
"O objetivo sócio politico do socialismo - muito pouco vislumbrado em Marx, Gramsci, Trotsky, Malatesta - é sim a autogestão comunitário... Mas isso é uma teoria...
Quem pegou esse bonde foram os anarquistas, que têm em Cristiania - nos arredores de Copenhague, se não me falha a memória, a única experiência bem sucedida nesse sentido."

Dito isto, venho mostrar que isso que o Cameron está propondo no que está sendo chamado de "big society", onde "o indivíduo triunfa sobre o governo" não é absolutamente nenhuma ousadia política da direita. O estado mínimo não é idéia do neoliberalismo!

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Sobre o Diafragma

Tenho 55 anos e estou na menopausa, sentindo uns calores horrorosos! Com esse aquecimento global, eu estou me extinguindo...
Li esse depoimento sobre o diafragma e resolvi deixar aqui o meu.
Aos 20 anos comecei a tomar pípulas, naquele tempo, uma de baixa dosagem q se chamava Microvlar, ou algo assim. Uns 3 ou 4 meses depois comeci a ter muita dor de cabeça (naquele tempo eu não tinha nada, nadinha, de mal estar!) e tive uma hemorragia de mais de 20 dias. Minha ginecologista (a mesma por 42 anos, - grande médica!) estava viajando e quem me atendeu foi o marido dela, obstetra também. Ele mandou-me parar com o anticoncepcional imeditamente e, depois que eu disse q gostaria de usar o diu, ele começou a me explicar os vários tipos do dispositivo. Após a escolha do tipo, coloquei o diu e, alguns dias depois,  tive hemorragia de novo...
Bom, agora só me restava experimentar o diafragma, q não foi a minha primeira opção porque  ele não tem a mesma segurança de quase 100% dos 2 outros métodos.
Foi uma revelação para mim! Como era prático e saudável! O médico, aquele mesmo, marido de minha médica, q ainda estava de férias, me disse q eu poderia ficar com ele mais de 8 horas, se necessário. Eu perguntei: "quanto tempo, um dia inteiro?" "Sim, pode, até mais." "Quanto mais, 2 dias?" " Pode, mas não deixa passar de 3 dias pra tirar, lavar e recolocar."
(Eu já estava preocupada com alguma maratona q pudesse acontecer...)
Bem, com essa resposta, eu assumi pra mim mesma que, transando ou não transando, eu passaria a usar o diafragma constantemente, pois eu não sabia a q horas poderia ocorrer uma necessidade. E eu detesto 2 coisas: programar sexo, ou estar despreparada para o sexo.
Assim, desde então, passei a usar o diafragma diariamente, retirando de 3 em 3 dias pra lavar, passar o gel espermicida (q era importado), e colocá-lo de novo. Depois de colocado, eu conferia com o dedo médio se o colo do útero estava atrás do diafragma, para me certificar q ele estava no lugar.
O gel era para dar uma aumentada na eficácia do método anticoncepcional, já que eu não queria filhos de maneira alguma, pois meu ex-marido não queria prole. Meu ciclo era regular e muito comprido, de 32 a 34 dias, e eu só deixava de usar o diafragma quando eu estava pra menstruar, e então ficava uns 10 dias sem, porque minha menstruação era muito longa. Nesse período, o diafragma ficava guardado em sua caixinha, depois de lavado, seco e polvilhado com talco.
O uso do diafragma é muito higiênico e, mesmo eu tirando-o de 3 em 3 dias, ele saia cheirosinho de dentro de minha vagina, pois o nosso útero é muito limpinho. Nele não entra nada (bem, só esperma...), nem uma bacteriazinha, portanto, não dá cheiro. Caso eu tivesse passado gel anterormente, saía um pouquinho desse gel meio coaguladinho, mas limpo. Sabe o cheiro q tem? De bico de borracha de neném novinho, com aquele cheirinho de boca limpinha!... Até parece q o meu diafragma era de borracha mesmo, e não de silicone com os de hoje, que li no depoimento da Ana. Era bege como a borracha dos bicos antigos.
Para retirar o diafragma, eu tinha um jeito diferente da Ana: eu enfiava o dedo médio entre ele e o osso que temos no púbis, virava a mão, e o puxava usando o dedo como gancho.
Num certo período, foi proibida a importação desse gel, com a alegação careta e idiota de que ele era "abortivo"! Passei a usar, receitada por minha médica, uma pomada espermicida manipulada pela Drogaria Araújo, q era vendida como "lubrificante" ou "antisséptica", sei lá, nem me lembro...
E também aprendi com ela a usar vinagre na higiene íntima como método espermicida, remédio antigo que minha avó me ensinou para evitar fungos, coceiras, infecções e outras coisas... Aliás, até hoje eu mantenho um frasquinho com vinagre de maçã dentro do box, e ensino pra muitas mulheres esse macetinho.
Bom, o gel americano voltou a ser importado e eu voltei a usá-lo.
Um dia, no 11º dia do ciclo, no final da menstruação, no dia 11 de fevereiro de 1980, transamos. Eu fiquei com a pulga atás da orelha, por isso eu guardei o dia, mas mesmo assim racionalmente eu dizia pra mim mesma q quem tem ciclo regular de 32 a 34 dias NUNCA ovula no 11º dia do ciclo.
Mas naquela primeira semana, irracionalmente, eu pensava em gravidez o tempo TODO! Na segunda semana, achei que meu mamá tinha inchado. Na terceira já estava agoniada e pedi o nome do teste de farmácia pra minha prima médica. Minha prima disse q o teste não funciona com menos de sei lá quantos dias. Comprei o teste na farmácia e fiquei aguardando o dia D de fazer o teste do xixi. O dia chegou, e o teste deu positivo! Minha prima disse q esses testes não eram muito confiáveis e me deu um pedido de exame de sangue, mas eu tinha q esperar por mais tantos dias para ir ao laboratório tirar o sangue pro teste.
Esperei e fui e depois fui buscar o resultado. Que dias de nervosismo! E deu positivo! E tive receio de contar pro ex-marido!
Mas... ele ADOROU a idéia! Meu único filho, não esperado, escapulido, foi muito bem esperado, muito bem recebido e muito bem amado!
Depois, voltei a usar o mesmo diafragma, separei-me, tive muitos namorados, e continuei com o mesmo diafragma por 10 anos.
Um dia, no banho, ao tirá-lo no habitual 3º dia, vejo um pontinho nele.
Puxei com a mão e o pontinho aumentou: era um FURO!
Apavorei!
O diafragma tinha (não sei os de hoje) uns 10 anos de vida útil.
 COMO eu podia ter me esquecido disso?
Imagina o meu sufoco!
Mas, dessa vez, nada escapuliu...
Decidi ligar as trompas. Disse à minha médica q se ela não o fizesse eu iria em outro médico. Ela pediu 3 dias pra pensar e, no dia seguinte mesmo, já tinha decidido me apoiar. Ela disse: "e se você se casar de novo?" Eu respondi: "e daí?" Afinal, eu já estava com 30 anos, já tinha um filho, e não queria nenhum mais.
 E eu acho que a decisão de querer ter filhos é de um casal, mas a decisão de não querer tê-los é individual.
Mas isso é uma outra história.