O Curral d'el Rey era um pequeno arraial onde foi implantado o traçado da nova capital de Minas, do brilhante Araão Reis. Dele tb é o plano da cidade de Sores, na ilha do Marajó - naquele tempo não se dizia "urbanismo", "desenho urbano", "plano urbano", etc. - palavras q só seriam usadas com a arquitetura moderna).
Tudo o q se pensava de mais moderno em termos de planejamento de cidade foi inspiração para a nova capital - inclusive o conceito de q planejamento urbano não é uma coisa estática, que o constante estudo da cidade é tão dinâmico quanto sua transformação - consequência do desenvolvimento da vida urbana vinda com o século das luzes, por isso Araão Reis propôs que ao término dos trabalhos da Comissão Construtora da Cidade, a qual chefiava, deveria ser instituída a Comissão de Desenvolvimento da Cidade, idéia q não foi comprada pelos políticos.
O plano da cidade consistia de uma área de arruamento geométrico, com lotes de 1000 m2, cercada de uma avenida de "Contorno", além do que ficariam chácaras e sítios q abasteceriam a cidade de produtos horti-frutigranjeiros, carnes e laticínios.
Dentro da área da Contorno situam-se, dentre outros, o Centro e o Funcionários, que foi a primeira região a ser ocupada pelos edifícios governamentais e pelas residências dos novos altos funcionários do estado. Dentro da Contorno tb fica a Floresta, a nordeste do Centro, originalmente ocupada pelo segundo escalão.
Do lado de fora desse perímetro ficavam colônias agrícolas, fazendas remanescentes, novas chácaras e sítios, e os bairros dos construtores negros - Bonfim, e imigrantes - Santa Tereza. Hoje esses 2 bairros são "colados" ao Centro.
No Bonfim se situa o nosso antigo e belo cemitério - nota-se q cemitério sempre fica longe e ninguém quer morar perto, a não ser os trabalhadores menos qualificados, menos valorizados, que não escolhem...
Em Santa Tereza ficava um antigo e belo edifício de quarentena de imigrantes, que depois se tornou sanatório, que foi demolido com o advento da penicilina, e veio a ser um mercado distrital - com a fama de ser um lugar azarado, com uma caveira de burro enterrada no local, dada a sua origem de lugar estigmatizado.
Nesse bairro foram morar os imigrantes italianos, portugueses e espanhóis que foram os artífices das primeiras construções da cidade.
Essa foi a coformação da primeira ocupação da nova capital.
No caso da Floresta, com o tempo, a região dentro da avenida do Contorno se valorizou muito e foi se tornando local de moradias abastadas. Do lado de fora, cresceu um comércio para atender a região e moradias mais populares.
Hoje, a região toda é supervalorizada, para comércio e residência, mas lá ainda moram muitas famílias de classe média, na parte de fora da Contorno. Boa parte da região foi tombada no começo da década de 90 do XX, o que gerou uma grande polêmica na cidade, entre os que defendiam o instrumento de preservação e os que eram radicalmente contra (como sempre acontece quando se trata de tombamentos).
Já Santa Tereza manteve-se desvalorizada porque, mesmo estando ao lado da Floresta e do Centro, era uma região sem abastecimento regular de água até o fim da década de 60 do XX. Com isso, o bairro se manteve com a mesma caracterítica sócio/cultural/econômica, o que promoveu a sua preservação e ocupação um pouco estável até uns 20 anos atrás, com um pequeno comércio local em torno da praça da igreja, muitas vendas/bares de gêneros e bebidas (que foram os embriões dos barzinhos e da vida boêmia local), moradias dos descendentes daqueles primeiros imigrantes ou de patrícios deles, já mescladas com de outros mineiros, belorizontinos ou não, e 2 favelas próximo ao ribeirão Arrudas, na área de maior declive (como sempre e em toda cidade).
Esse "meio abandono" favoreceu a manutenção de suas caracteríticas de "cidade do interior", assim como o total abandono das atividades econômicas preservou totalmente Tiradentes para o fim do séc. XX e para a Rede Globo (hoje Tiradentes é tão chique que eu não tenho o nível econômico necessário para frequentá-la mais... E foi lá q passei uns dias de minha pequena lua-de-mel com meu 1º marido em 1978 - definitivamente não era moda, nem lua-de-mel, nem Tiradentes. E foi lá que conheci meu atual marido, em 1992, e cheguei a voltar com ele algumas vezes, até q ela se tornou mesmo território de paulistas e cariocas abastados e cults).
Como eu tenho atração por coisas fora de moda, ou out (antes era brega ou kitsch, dependendo do olhar do público ou do usuário, hoje é chique e vintage - não mais me atrai tanto), comprei praticamente a vista um ap na planta, meio mês antes do Collor tomar o dinheiro de todo mundo, num predinho simples de 3 andares no bairro, depois de meiar com meu ex-marido nossa linda casinha antiga, no tradicional bairro de soldados de BH, Santa Efigênia, vizinho a Santa Tereza e ao Funcionários, que nós restauramos, de arquitetura pré-modernista, de 1932, de autoria do arquiteto belga Hardy, pai do Álvaro Hardy, meu ex-professor, e avô do Veveco, reconhecidos arquitetos de BH, ambos falecidos.
A construção demorou a ficar pronta, pois até o dono da pequena construtora ficou sem dinheiro.
Mudei-me para Santa Tereza com meu filho.
Na projeto do Plano Diretor de BH, observei que o bairro estava classificado como Zona de Adensamento Preferencial.
Epa! Com a proximidade de áreas nobres de Belo Horizonte, como a área hospitalar, já saturada, Centro, Savassi e Funcionários, aquela vida de aspectos aparentemente discrepantes, como a calma de cidade de interior e a boêmia de botequins de Santa Tereza, viria a baixo, com seus imóveis simples e antigos dando lugar a edifícios comerciais e residenciais! (Santa Tereza é a casa do Clube da Esquina, da Banda Santa, de uma das poucas manifestações das Pastorinhas de BH, e tem toda uma vida própria especial.)
Assustada, botei a boca no trombone e fui atrás de quem eu conhecia no bairro, e, juntos criamos o Movimento "Salve, SantaTereza!", que imediatamente ardeu como fogo no bairro todo. Tivemos apoio da nossa associação do bairro. Reuniões, abaixo-assinado, visitas a todos os gabinetes de vereadores, todos os dias na câmara, tipo "não esqueça a minha caloi". Ganhamos manchetes de jornais e notícias na tv.
Fizemos tanta pressão que conseguimos alterar o projeto do Plano Diretor de BH, aprovado em 1996, com a Área de Diretrizes Especiais de Santa Tereza, de caracteríticas sócio/ culturais, ambientais e históricas que demandavam medidas urbanísticas de proteção, com a garantia de participação popular nas intervenções e atividades do bairro. Isso na época do Habitat II, em Istambul (Segunda Conferência das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos - HABITAT II (Istambul/Turquia/1996).
Conseguimos proteger o bairro e sua ambiência, com instrumentos urbanísticos
Conseguimos colocar a gestão local na pauta da prefeitura de BH.
Foi o maior abaixo-assinado recebido até então na Câmara de Vereadores de BH.
Foi o 1º movimento popular nesses moldes no Brasil!
Foi a 1ª medida de proteção e salvaguarda de patrimônio de conjunto com instrumentos urbanísticos, ao invés do instrumento do tombamento no município.
Foi a 1ª inclusão da gestão local e participativa de bairro garantida em lei na cidade.
Ganhamos vários prêmios e honrarias.
Servimos de modelo para outros movimentos comunitários.
Demos apoio e consultoria técnica para associações de bairro.
Tomamos assento no Conselho Municipal de Política Urbana, como representante do setor popular, eleito pelas associações e entidades da categoria em BH.
Elaboramos participativamente nossa proposta de projeto de lei de regulamentação para o bairro.
Inventamos intuitivamente nossa metodologia de participação popular para a elaboração desse trabalho técnico de proposta de projeto de lei de regulamentação da área.
Nossa proposta de projeto de lei foi a escolhida pela empresa de urbanismo contratada pela prefeitura como a melhor de 3 cenários estudados/propostos por ela para o bairro.
Nossa proposta foi votada na câmara de vereadores, praticamente sem mudanças.
Demos palestras e aulas de participação popular e urbanismo.
Fomos estudo de caso de 2 teses de mestrado da UFMG, uma de arquitetura e urbanismo com enfoque sociológico, e outra de sociologia com enfoque arquitetônico/urbanistico.
(Fui nota de rodapé de tese em quase todas as páginas.)
Saímos do popular para a academia.
Conseguimos fazer sentar na mesma mesa para reunião igreja e comunista: o vigário da paróquia, o saudoso Padre Cornélio, holandês de Santa Tereza, e o Sr. Dimas Perin, ex-deputado federal, ex-líder político comunista, perseguido na ditadura, autor de livros e nossa referência de cidadania.
Tivemos nossos 15 minutos trocentas vezes.
Como o samba que não era apreciado pela madame socialite, incomodamos departamentos que não gostam de discussões técnicas com povo.
Conseguimos eleger uma diretoria para nossa associação de moradores com votação recorde na história de todos os bairros da cidade, na Praça de Santa Tereza, que entrou noite a dentro, com luz de gambiarra, pois havia ainda imensa fila após as 17 horas.
Demos assessoria para nossa associação de moradores.
Elegemos mais algumas outras diretorias da associação do bairro, parceiras de nosso Movimento.
Tentamos salvar nosso cinema antigo, quando ele estava na iminência de se transformar em igreja, montando um boneco de projeto de centro cultural pluri-setorial, pela lei Rouanet, incluindo a compra do Cine Santa Tereza, que previa a participação popular e a de alguns representantes da música, teatro e dança de BH, de notável expressividade e que foi malogrado com a recusa do proprietário em vender o imóvel, nos oferencendo no lugar outro cinema, que futuramente veio a ser transformado pelo Grupo Galpão em importante espaço cultural na cidade. Sonhamos até com a inauguração, com uma sessão solene de apresentação concomitante, dentro do Cine e em telão na praça do "Conde de Monte Cristo", filme q inaugurou o cinema antigamente... Como as idéias nascem e se repetem concretizadas em outros locais, em outros tempos...
Fizemos parceria com a associação do vizinho e antigo bairro Floresta, que fez a proposição de desapropriação do cinema pelo orçamento participativo, para efetivar nosso projeto de Centro Cultural no local, agora para toda a Região Leste da Cidade.
Bem, o resto eu já escrevi sobre o Cine Santa Tereza, basta ler posts anteriores, no feicebuque, que oportunamente copiarei aqui no blog.
Essas foram algumas das atuações do Movimento "Salve, Santa Tereza!", que, ao longo dos anos, não se restringiu apenas a esses aspectos aqui relatados, e sim a participar de todo aspecto da vida do bairro, ora mesclando-se com a associação do bairro, ora não, defendendo, propondo, intervindo em tudo o que se referia à Área de Diretrizes Especiais de Santa Tereza e à vida que nesse local se inseria, continuando por vários anos, mesmo sem mais a minha pessoal participação, mas com a de incansáveis companheiros fundadores do Movimento, em especial o José Ronaldo Perdigão, morador nascido e criado no bairro, que hoje não mora mais em Belo Horizonte, mas continua com sua caneta afiada através da internet.
Mas, cadê as vozes de Santa Tereza, da Floresta e de demais bairros e vilas da Região Leste, para se expressarem sobre os rumos e decisões arbitrárias sobre o Cine Santa Tereza - Centro Cultural da Região Leste, patrimônio da comunidade, conquistado pelo Orçamento Participativo?
Tudo o q se pensava de mais moderno em termos de planejamento de cidade foi inspiração para a nova capital - inclusive o conceito de q planejamento urbano não é uma coisa estática, que o constante estudo da cidade é tão dinâmico quanto sua transformação - consequência do desenvolvimento da vida urbana vinda com o século das luzes, por isso Araão Reis propôs que ao término dos trabalhos da Comissão Construtora da Cidade, a qual chefiava, deveria ser instituída a Comissão de Desenvolvimento da Cidade, idéia q não foi comprada pelos políticos.
O plano da cidade consistia de uma área de arruamento geométrico, com lotes de 1000 m2, cercada de uma avenida de "Contorno", além do que ficariam chácaras e sítios q abasteceriam a cidade de produtos horti-frutigranjeiros, carnes e laticínios.
Dentro da área da Contorno situam-se, dentre outros, o Centro e o Funcionários, que foi a primeira região a ser ocupada pelos edifícios governamentais e pelas residências dos novos altos funcionários do estado. Dentro da Contorno tb fica a Floresta, a nordeste do Centro, originalmente ocupada pelo segundo escalão.
Do lado de fora desse perímetro ficavam colônias agrícolas, fazendas remanescentes, novas chácaras e sítios, e os bairros dos construtores negros - Bonfim, e imigrantes - Santa Tereza. Hoje esses 2 bairros são "colados" ao Centro.
No Bonfim se situa o nosso antigo e belo cemitério - nota-se q cemitério sempre fica longe e ninguém quer morar perto, a não ser os trabalhadores menos qualificados, menos valorizados, que não escolhem...
Em Santa Tereza ficava um antigo e belo edifício de quarentena de imigrantes, que depois se tornou sanatório, que foi demolido com o advento da penicilina, e veio a ser um mercado distrital - com a fama de ser um lugar azarado, com uma caveira de burro enterrada no local, dada a sua origem de lugar estigmatizado.
Nesse bairro foram morar os imigrantes italianos, portugueses e espanhóis que foram os artífices das primeiras construções da cidade.
Essa foi a coformação da primeira ocupação da nova capital.
No caso da Floresta, com o tempo, a região dentro da avenida do Contorno se valorizou muito e foi se tornando local de moradias abastadas. Do lado de fora, cresceu um comércio para atender a região e moradias mais populares.
Hoje, a região toda é supervalorizada, para comércio e residência, mas lá ainda moram muitas famílias de classe média, na parte de fora da Contorno. Boa parte da região foi tombada no começo da década de 90 do XX, o que gerou uma grande polêmica na cidade, entre os que defendiam o instrumento de preservação e os que eram radicalmente contra (como sempre acontece quando se trata de tombamentos).
Já Santa Tereza manteve-se desvalorizada porque, mesmo estando ao lado da Floresta e do Centro, era uma região sem abastecimento regular de água até o fim da década de 60 do XX. Com isso, o bairro se manteve com a mesma caracterítica sócio/cultural/econômica, o que promoveu a sua preservação e ocupação um pouco estável até uns 20 anos atrás, com um pequeno comércio local em torno da praça da igreja, muitas vendas/bares de gêneros e bebidas (que foram os embriões dos barzinhos e da vida boêmia local), moradias dos descendentes daqueles primeiros imigrantes ou de patrícios deles, já mescladas com de outros mineiros, belorizontinos ou não, e 2 favelas próximo ao ribeirão Arrudas, na área de maior declive (como sempre e em toda cidade).
Esse "meio abandono" favoreceu a manutenção de suas caracteríticas de "cidade do interior", assim como o total abandono das atividades econômicas preservou totalmente Tiradentes para o fim do séc. XX e para a Rede Globo (hoje Tiradentes é tão chique que eu não tenho o nível econômico necessário para frequentá-la mais... E foi lá q passei uns dias de minha pequena lua-de-mel com meu 1º marido em 1978 - definitivamente não era moda, nem lua-de-mel, nem Tiradentes. E foi lá que conheci meu atual marido, em 1992, e cheguei a voltar com ele algumas vezes, até q ela se tornou mesmo território de paulistas e cariocas abastados e cults).
Como eu tenho atração por coisas fora de moda, ou out (antes era brega ou kitsch, dependendo do olhar do público ou do usuário, hoje é chique e vintage - não mais me atrai tanto), comprei praticamente a vista um ap na planta, meio mês antes do Collor tomar o dinheiro de todo mundo, num predinho simples de 3 andares no bairro, depois de meiar com meu ex-marido nossa linda casinha antiga, no tradicional bairro de soldados de BH, Santa Efigênia, vizinho a Santa Tereza e ao Funcionários, que nós restauramos, de arquitetura pré-modernista, de 1932, de autoria do arquiteto belga Hardy, pai do Álvaro Hardy, meu ex-professor, e avô do Veveco, reconhecidos arquitetos de BH, ambos falecidos.
A construção demorou a ficar pronta, pois até o dono da pequena construtora ficou sem dinheiro.
Mudei-me para Santa Tereza com meu filho.
Na projeto do Plano Diretor de BH, observei que o bairro estava classificado como Zona de Adensamento Preferencial.
Epa! Com a proximidade de áreas nobres de Belo Horizonte, como a área hospitalar, já saturada, Centro, Savassi e Funcionários, aquela vida de aspectos aparentemente discrepantes, como a calma de cidade de interior e a boêmia de botequins de Santa Tereza, viria a baixo, com seus imóveis simples e antigos dando lugar a edifícios comerciais e residenciais! (Santa Tereza é a casa do Clube da Esquina, da Banda Santa, de uma das poucas manifestações das Pastorinhas de BH, e tem toda uma vida própria especial.)
Assustada, botei a boca no trombone e fui atrás de quem eu conhecia no bairro, e, juntos criamos o Movimento "Salve, SantaTereza!", que imediatamente ardeu como fogo no bairro todo. Tivemos apoio da nossa associação do bairro. Reuniões, abaixo-assinado, visitas a todos os gabinetes de vereadores, todos os dias na câmara, tipo "não esqueça a minha caloi". Ganhamos manchetes de jornais e notícias na tv.
Fizemos tanta pressão que conseguimos alterar o projeto do Plano Diretor de BH, aprovado em 1996, com a Área de Diretrizes Especiais de Santa Tereza, de caracteríticas sócio/ culturais, ambientais e históricas que demandavam medidas urbanísticas de proteção, com a garantia de participação popular nas intervenções e atividades do bairro. Isso na época do Habitat II, em Istambul (Segunda Conferência das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos - HABITAT II (Istambul/Turquia/1996).
Conseguimos proteger o bairro e sua ambiência, com instrumentos urbanísticos
Conseguimos colocar a gestão local na pauta da prefeitura de BH.
Foi o maior abaixo-assinado recebido até então na Câmara de Vereadores de BH.
Foi o 1º movimento popular nesses moldes no Brasil!
Foi a 1ª medida de proteção e salvaguarda de patrimônio de conjunto com instrumentos urbanísticos, ao invés do instrumento do tombamento no município.
Foi a 1ª inclusão da gestão local e participativa de bairro garantida em lei na cidade.
Ganhamos vários prêmios e honrarias.
Servimos de modelo para outros movimentos comunitários.
Demos apoio e consultoria técnica para associações de bairro.
Tomamos assento no Conselho Municipal de Política Urbana, como representante do setor popular, eleito pelas associações e entidades da categoria em BH.
Elaboramos participativamente nossa proposta de projeto de lei de regulamentação para o bairro.
Inventamos intuitivamente nossa metodologia de participação popular para a elaboração desse trabalho técnico de proposta de projeto de lei de regulamentação da área.
Nossa proposta de projeto de lei foi a escolhida pela empresa de urbanismo contratada pela prefeitura como a melhor de 3 cenários estudados/propostos por ela para o bairro.
Nossa proposta foi votada na câmara de vereadores, praticamente sem mudanças.
Demos palestras e aulas de participação popular e urbanismo.
Fomos estudo de caso de 2 teses de mestrado da UFMG, uma de arquitetura e urbanismo com enfoque sociológico, e outra de sociologia com enfoque arquitetônico/urbanistico.
(Fui nota de rodapé de tese em quase todas as páginas.)
Saímos do popular para a academia.
Conseguimos fazer sentar na mesma mesa para reunião igreja e comunista: o vigário da paróquia, o saudoso Padre Cornélio, holandês de Santa Tereza, e o Sr. Dimas Perin, ex-deputado federal, ex-líder político comunista, perseguido na ditadura, autor de livros e nossa referência de cidadania.
Tivemos nossos 15 minutos trocentas vezes.
Como o samba que não era apreciado pela madame socialite, incomodamos departamentos que não gostam de discussões técnicas com povo.
Conseguimos eleger uma diretoria para nossa associação de moradores com votação recorde na história de todos os bairros da cidade, na Praça de Santa Tereza, que entrou noite a dentro, com luz de gambiarra, pois havia ainda imensa fila após as 17 horas.
Demos assessoria para nossa associação de moradores.
Elegemos mais algumas outras diretorias da associação do bairro, parceiras de nosso Movimento.
Tentamos salvar nosso cinema antigo, quando ele estava na iminência de se transformar em igreja, montando um boneco de projeto de centro cultural pluri-setorial, pela lei Rouanet, incluindo a compra do Cine Santa Tereza, que previa a participação popular e a de alguns representantes da música, teatro e dança de BH, de notável expressividade e que foi malogrado com a recusa do proprietário em vender o imóvel, nos oferencendo no lugar outro cinema, que futuramente veio a ser transformado pelo Grupo Galpão em importante espaço cultural na cidade. Sonhamos até com a inauguração, com uma sessão solene de apresentação concomitante, dentro do Cine e em telão na praça do "Conde de Monte Cristo", filme q inaugurou o cinema antigamente... Como as idéias nascem e se repetem concretizadas em outros locais, em outros tempos...
Fizemos parceria com a associação do vizinho e antigo bairro Floresta, que fez a proposição de desapropriação do cinema pelo orçamento participativo, para efetivar nosso projeto de Centro Cultural no local, agora para toda a Região Leste da Cidade.
Bem, o resto eu já escrevi sobre o Cine Santa Tereza, basta ler posts anteriores, no feicebuque, que oportunamente copiarei aqui no blog.
Essas foram algumas das atuações do Movimento "Salve, Santa Tereza!", que, ao longo dos anos, não se restringiu apenas a esses aspectos aqui relatados, e sim a participar de todo aspecto da vida do bairro, ora mesclando-se com a associação do bairro, ora não, defendendo, propondo, intervindo em tudo o que se referia à Área de Diretrizes Especiais de Santa Tereza e à vida que nesse local se inseria, continuando por vários anos, mesmo sem mais a minha pessoal participação, mas com a de incansáveis companheiros fundadores do Movimento, em especial o José Ronaldo Perdigão, morador nascido e criado no bairro, que hoje não mora mais em Belo Horizonte, mas continua com sua caneta afiada através da internet.
Mas, cadê as vozes de Santa Tereza, da Floresta e de demais bairros e vilas da Região Leste, para se expressarem sobre os rumos e decisões arbitrárias sobre o Cine Santa Tereza - Centro Cultural da Região Leste, patrimônio da comunidade, conquistado pelo Orçamento Participativo?
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